domingo, 25 de dezembro de 2011

Assediados: Relato 20



Relato 20
Participar de um Concurso Público Municipal é sempre algo desafiador, ser aprovado, motivo de orgulho e satisfação. Então quando em 2002 fui aprovada e nomeada para assumir um cargo público, senti-me muito feliz, pois assim poderia por em prática todas as coisas para as quais eu havia me preparado durante todos os anos de faculdade. Até o meu Trabalho de Conclusão do Curso, desenvolvi no Sistema Público de Saúde.

Fui designada então para um determinado “Distrito Sanitário”. Por coincidência e falta de sorte minha, a responsável por esta unidade para a qual fui lotada, me conhecia anteriormente, e por questão de orgulho ferido, nutria algum tipo de desagrado ou despeito por mim.

Não foi preciso muito tempo para começar a sentir os efeitos mesquinhos de tais sentimentos.

Em curto prazo de tempo, fui transferida para TODAS as Unidades de Saúde pertencentes a aquele Distrito Sanitário. A sua falta de respeito por mim se tornava cada vez mais clara, e o seu desejo de me prejudicar mais evidente.

Fui informada posteriormente por uma pessoa que inclusive, veio a ser minha testemunha dos fatos, que em todas as reuniões com as responsáveis pelas Unidades de Saúde o meu nome era citado de forma pejorativa, como se eu fosse uma peça de leilão: “... quem quer ficar com “ela”?

No decorrer dos dois anos que estive lotada naquele Distrito Sanitário protocolei vários pedidos de transferência para outro Distrito, e só recebia negativas, sem nenhuma justificativa formal.

No meu desespero para conseguir trabalhar de forma honrada, e conseguir por em prática todos os meus conhecimentos, fui pessoalmente ao RH pedir transferência, mas a responsável pelo Distrito Sanitário fora “advertida” a meu respeito. Então, além de não conseguir ser transferida, ainda fui repreendida pela minha algoz, que não admitia o fato de que eu tivesse solicitado transferência.

Como entender a lógica de mentes assediadoras? Ela tenta “leiloar-me”, disponibilizando-me como se eu fosse um sapato apertado e sem utilidade, mas quando quero ir, por livre e espontânea vontade, o meu desejo é negado sem nenhuma justificativa. Assim ela buscava alcançar sua meta de tornar a minha vida e trabalho impossíveis.

As coisas foram tornando-se cada vez mais difíceis, o meu isolamento aumentava a cada dia. Eu era proibida de manter contato com os colegas, fossem eles do mesmo nível hierárquico, superior ou inferior. Os colegas, também eram proibidos de manter contato pessoal ou profissional comigo, o que tornava os meus dias muito penosos.

Na tentativa de me sentir incluída em “algum lugar do mundo” comecei a freqüentar o Sindicato de Funcionários Públicos Municipais.

Na mesma época a responsável pelo Distrito em que eu estava lotada, começou a participar das Avaliações do Estágio Probatório (período de adaptação em que o servidor público tem o seu desempenho avaliado para determinar a efetivação ou não, ao cargo para o qual foi nomeado).

Durante o período em que trabalhei, eu era transferida em média a cada dois meses, e a minha avaliação do Estágio Probatório só era feita após a minha saída das unidades.

As avaliações acontecem semestralmente, com isso, no momento da avaliação do meu Estágio Probatório, eu já tinha passado por duas ou três unidades de Saúde do Distrito que estava lotada e nunca consegui transferência para outros Distritos como eu desejava.

Mas como eu poderia ter o meu desempenho, adaptação, responsabilidade, organização, qualidade do trabalho, relacionamento, racionalização, etc. avaliados, sem ao menos ter tempo para conhecer o território, identificar as necessidades da população, desenvolver estratégias ou construir vínculos, fossem eles no âmbito pessoal ou profissional?

Tecnicamente, ela nunca poderia estar presente, porque na avaliação, as pessoas presentes deveriam ser: um responsável direto, um representante do RH e o profissional a ser avaliado.

Uma pessoa dos meus contatos relatou todo o assédio e sofrimento pelo qual eu passava a um Deputado Estadual. Fui aconselhada então, a procurar ajuda Judicial.

Logo depois, este mesmo Deputado tornou-se o Secretário de Saúde do Município. Imaginei que desta vez o meu sofrimento teria fim. Entretanto, o Assédio Moral pelo qual eu passava, continuou sendo ignorado por aquele que poderia ter-me ajudado.

Eu que sempre fui uma pessoa de hábitos moderados, engordei 20K durante os dois anos em que sofri todas essas agressões.

Acabei por sofrer um processo administrativo, fui acusada sem provas de atitudes ridículas, absurdas e até imorais.

O Procurador, em defesa do município, argumentou que eu não apresentava nenhuma evidência que sugerisse “dano moral”, entretanto, os laudos médicos que me consideravam: “apta sem restrições” eram sempre questionados. Foi feita então uma solicitação médica para que eu fosse transferida para outro distrito sanitário, mas sua prescrição foi ignorada. Algumas vezes o médico chegou a sorrir e se desculpar comigo pelo ridículo da situação.

O Procurador então solicitou uma sindicância para apurar os fatos.

Mesmo com os meus relatos, as testemunhas e as provas apresentadas, fui exonerada e saí literalmente pela porta dos fundos da Unidade de Saúde.

Apesar de tantos abusos e mudanças, eu amava o meu trabalho, ou melhor, amava o que sonhei que seria o meu trabalho e desejei com todas as minhas forças desenvolver um trabalho digno para a população que deveria receber os meus cuidados.

Fui questionada há pouco tempo por este blog, sobre quais eram os meus sentimentos em relação a tudo pelo que passei. Concluo que não teria as palavras adequadas, mesmo que usasse um dicionário inteiro pra explicar. Mesmo assim resolvi tentar: Sinto os meus sonhos, a minha segurança, minha saúde física e psíquica violados. Percebo com mais clareza do que nunca, o quanto fui ferida e desestabilizada.

E quanto mais penso nisso, mais tomo consciência dos danos e do assédio moral que sofri.

Sei que tudo que perdi é irrecuperável, mas também sei que em momento algum posso me permitir perder a esperança.

2 comentários:

  1. Quanto sofrimento essas pessoas tão insanas são capazes de provocar à vida alheia.
    É preciso ter muita fé, esperança e coragem pra se levantar depois de ser agredido a esse ponto.
    Me parece que a pior parte é a pessoa ser acusada de coisas que não fez... é crime sobre crime!
    Valeu a história, quem sabe as pessoas tomando conhecimento dessa desgraça, sejam capazes de se defender.

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  2. obrigada pelo seu comentário;
    é verdade pessoas insanas e más;
    que bom que essas vítimas têm a fé em DEUS,esperança e coragem para suportar essas injustiças de quem cometeu e da justiça que fingi que não vê.

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